Pronunciamento durante a entrega do Prêmio Zilda Arns
13 de Junho de 2018
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores convidados desta sessão,
Quando apresentei a proposta de criação do Prêmio Zilda Arns, meu objetivo era de que a Câmara dos Deputados valorizasse e reconhecesse o trabalho de organizações e de pessoas que dedicam seus esforços para garantir que homens e mulheres possam desfrutar de uma vida digna quando envelhecem.
Sempre tive como valor, ensinado dentro de casa, que a sabedoria está nos mais velhos e que nossa relação, independente de quem sejamos ou que idade tenhamos, deve ser sempre pautada pelo respeito e pela consideração, que é o mínimo que uma pessoa pode esperar após uma vida inteira de trabalho e dedicação.
Mas, ao contrário disso, o que vemos são milhares de brasileiros que além das dificuldades em decorrência da perda da capacidade funcional, em razão do avanço da idade, ainda enfrentam o preconceito, a negligência, o abandono e as mais diversas violências.
E quando nos deparamos com os dados da violência pela qual muitas pessoas idosas passam no Brasil, tenho certeza de que há um descompasso que precisa ser prevenido e combatido.
Apenas em 2017, o Disque 100 recebeu 33 mil denúncias de violações cometidas contra pessoas idosas no Brasil. Nas denúncias, vemos a negligência, a violência psicológica e o abuso financeiro e econômico como as que mais incidem sobre a população idosa. Mas o que mais me entristece é saber que, em 76% dos casos, a violência aconteceu dentro da própria casa da vítima. Isso não pode continuar assim.
O trabalho daqueles que se dedicam a mudar esse cenário, é uma ação que merece ser reconhecida.
Decidi nomear esse prêmio em referência à Zilda Arns, não apenas por ter crescido e feito carreira no meu estado, o Paraná, mas por ter sido - além de grande brasileira que foi - a idealizadora da Pastoral da Pessoa Idosa, uma organização com enorme capilaridade pelo país, que envolve o trabalho de 25 mil voluntários no acompanhamento domiciliar de mais de 145 mil pessoas idosas em situação de vulnerabilidade. E para a realização deste trabalho, exige-se mais do que vocação. Exige amor. Amor ao próximo. Tão em desuso nos dias atuais.
Por isso, é uma honra para mim e para esta Casa atribuir à Zilda Arns a denominação deste prêmio para reconhecer aqueles que, como ela, tiveram a sensibilidade de olhar para as pessoas idosas com a atenção que elas precisam.
Saber que o envelhecimento estará ocupando um lugar central na sociedade neste século nos impõe novos compromissos, em especial, do poder público, com estratégias que garantam proteção aos mais frágeis e oportunidades para que os idosos independentes continuem atuantes na sociedade.
E assim tem sido desde que assumi o meu mandato. Tive a oportunidade de ser a autora do Projeto que criou a Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa na Câmara dos Deputados e também autora da Emenda que criou a Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, órgão que hoje integra o Ministério dos Direitos Humanos. Além disso, fui autora do projeto que criou o Ano de Valorização dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa e tenho a grata satisfação em dizer que estará na pauta da semana que vem, na CIDOSO, o meu parecer aprovando a ratificação, pelo Brasil, da Convenção Interamericana dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa.
Estava mais do que na hora de o Brasil acolher essa demanda e reconhecer que os idosos não são pessoas a serem esquecidas, mas cidadãos e cidadãs que, por terem doado suas vidas para fazer deste Brasil – Brasil, merecem não apenas nosso respeito, como a garantia de que não serão discriminados, não serão abandonados, não serão maltratados e terão o direito a um envelhecimento ativo e saudável.
A pessoa idosa precisa de bem-estar, ter a possibilidade de continuar se educando, ter o direito à cultura garantido, ter atenção preferencial sem que isso pareça incômodo e que lhe seja garantida proteção judicial quando se fizer necessária.
Nesse sentido, temos uma lei, que é o Estatuto do Idoso, com grandes avanços, mas também contando com muitos artigos que ainda não foram regulamentados. Então, falo aqui às senhoras deputadas e senhores deputados que me ouvem no plenário e nos gabinetes: trabalhemos para regulamentar o Estatuto do Idoso e garantindo, no Orçamento da União, recursos para que se dê uma atenção especial às ações que promovam o envelhecimento ativo. Apenas isso já fará uma enorme diferença na vida de muitos brasileiros e brasileiras, hoje e no futuro.
Por fim, quero parabenizar a cada um dos que serão agraciados com o Prêmio Zilda Arns. Saibam que o trabalho de vocês irá influenciar a muitos e quem sabe despertar, pouco a pouco, o amor e a solidariedade que existe em cada um de nós. Que seus exemplos sejam vistos e seguidos. E àqueles que nos assistem pela internet, pelo rádio ou pela televisão, saibam: se cada um de nós garantir que as pessoas idosas da nossa própria família recebam de nós amor e compreensão, todos os nossos esforços terão valido a pena.
Abro um espaço para falar da Pastoral. Num passado muito recente, um momento muito crítico no Brasil, com altos índices de desnutrição e mortalidade infantil, o trabalho da Pastoral da Criança foi fundamental para mudar a nossa realidade. E, sensíveis ao cuidado às crianças, percebeu-se a necessidade de também olhar para a pessoa idosa, surgindo a Pastoral da Pessoa Idosa. Assim, tenho a certeza de que a Pastoral da Pessoa Idosa fará o mesmo pelos idosos do que fez a Pastoral da Criança.
Por fim, encerro meu pronunciamento com uma frase sempre dita por Zilda Arns e que acredito servir bem a este momento. “O trabalho social precisa de mobilização das forças. Cada um colabora com aquilo que sabe fazer ou com o que tem para oferecer. Deste modo, fortalece-se o tecido que sustenta a ação e cada um sente que é uma célula de transformação do país. Não se enganem. Uma gotinha no oceano, faz sim, muita diferença”.
Obrigada.